EM BUSCA DA IGUALDADE

“Não é a consciência do homem que lhe determina o ser, mas, ao contrário, o seu ser social que lhe determina a consciência.”

(Karl Marx)

Uma sociedade democrática, justa e humanitária pressupõe o respeito a todas as pessoas e a garantia de direitos, independente de sexo, cor, idade, condições físicas, mentais e orientação sexual. Esta é uma disposição de nossa Lei maior, desde 1988. Cabe aos conselhos promoverem a discussão na sociedade, estimulando a transformação da mentalidade antiga para estes novos conceitos, visão de homens e mulheres, combatendo as desigualdades e valorizando a diversidade humana, em que todas as diferenças são fundamentais.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Violência doméstica contra a mulher: Lei Maria da Penha


                         


                             Vídeo: Mulher, Hoje recebi flores
                            http://www.youtube.com/watch?v=Y6q1kfp3J9I


Como é possível que exista violência doméstica contra a mulher?
Acabamos de sair do século 20, quando o código civil ainda considerava o homem o chefe da família; e os escravos, bens móveis.  
Com o intuito velado de abafar a sexualidade feminina, o adultério feminino era considerado crime, e as filhas se fossem "ingratas" com o pai podiam ser deserdadas. Vejam a que nível chegava o grau de retrocesso em nossa lei!
Código do tempo de D. Pedro I revogado só em 2002
Em 2002 este artigo do código civil arcaico foi revogado e substituído por um artigo que primava pela não violência familiar sem fazer distinção entre os direitos de homens e mulheres. 
Apesar deste avanço na legislação brasileira, as agressões continuavam.
Com aquela mentalidade vinda de anos de machismo e o homem ainda se achando proprietário de sua mulher e filhas, continuavam agredindo aquelas que eles mais deviam amar.

Por que a necessidade da Lei Maria da Penha?

Como normalmente os homens são os mais fortes e, na sua formação ainda trazem arraigado o conceito de ser o chefe e ter o direito sobre sua família; é ele que normalmente agride seus familiares.
Para proteger as mulheres contra a violência dentro de suas casas, foi promulgada em 07 de agosto de 2006 a Lei 11340/06 batizada de Maria da Penha em homenagem a uma mulher que ficou paraplégica devido a um tiro que levou do marido. Ela se tornou o ícone da luta contra a impunidade dos agressores no lar.

Menos educação mais violência contra as mulheres

Quanto mais baixo o nível cultural das famílias, mais violência contra a mulher é constatada. Estes homens que vivem em cidades grandes, em condições sub-humanas, sem conseguir dinheiro suficiente para cuidar de sua mulher e dos muitos filhos que geralmente têm; se entregam à bebida e chegando em casa agridem sua mulher por qualquer motivo. Este é um entre muitos outros motivos. Juristas estão questionando a constitucionalidade desta lei que privilegia apenas as mulheres e não qualquer pessoa que sofra violência doméstica. Querem um tratamento igual para homens e mulheres quando a questão é violência no lar.


Aqui, na cidade de Pinheiros aconteceu a semana da saúde da mulher e dos homens. Essa campanha permitiu a ambos tanto homens quanto mulheres a cuidar da saúde, ficando assim aptos a desenvolverem suas tarefas, pois quando as pessoas estão com problemas de saúde, ficam incapazes de trabalhar. Essa oportunidade foi de grande valor, pois contribuiu muito para a valorização da saúde e do bem estar independente do gênero. Na escola que eu trabalho, nós professores e equipe pedagógica, incentivamos e acompanhamos a participação dos nossos alunos do Ensino Médio e de toda escola e comunidade, já que o convite foi estendido a todos.
Na escola São João do Sobrado nós estamos desenvolvendo um projeto de Gestão democrática, onde o nosso principal objetivo é integrar escola, pais, alunos e comunidade. Todos os meses nós realizamos eventos onde ocorre o contato e integração das pessoas e a valorização do trabalho de todos. Com essa ação nós queremos construir uma escola mais democrática, onde educar não é apenas uma função da escola, mas sim de todos e podemos contar com a presença mais freqüente da família na escola contribuindo no processo de educação dos filhos. 



Reportagens Coisa de menino. Coisa de menina. Será?

Alicia Fernández: "Aprendizagem também é uma questão de gênero"
Para a psicopedagoga argentina, as dificuldades da criança em sala de aula têm relação com os papéis atribuídos a homens e mulheres
Uma questão despertava a atenção da psicopedagoga argentina Alicia Fernández na década de 1980. A maioria dos casos relacionados a dificuldades escolares que chegavam ao consultório dela se dava com meninos e não com meninas. Um estudo realizado entre 1986 e 1989, com crianças e jovens menores de 14 anos, comprovou uma observação: 70% deles eram do sexo masculino. A constatação de que o cenário se repetia em outros países estimulou a investigação sobre o assunto. O resultado está no livro A Mulher Escondida na Professora, que discute o papel feminino na Educação. Com 63 anos, a diretora da Escola Psicopedagógica de Buenos Aires presta serviços de consultoria a instituições de formação em seu país e também no Uruguai, em Portugal, na Espanha e no Brasil. "Sinto que sou um pouco nômade", afirma. Atualmente, ela desenvolve pesquisas sobre hiperatividade e déficit de atenção na infância, problemas que cada vez mais são identificados, inclusive no Brasil.
Nesta entrevista, concedida à NOVA ESCOLA no Uruguai, Alicia explica que esses distúrbios são reflexos do comportamento da sociedade, permeado pelas questões de gênero, e não algo que aparece de forma espontânea e isolada em cada um dos alunos. 
Por que relacionar as questões de gênero à aprendizagem? 
ALICIA FERNÁNDEZ Percebi que a maioria das crianças que chegava para o atendimento psicopedagógico em meu consultório era de meninos. Achei que essa observação merecia uma pesquisa. Procurei estatísticas em outros países e constatei a mesma situação. Ainda hoje, de 75 a 80% dos pacientes encaminhados para o atendimento desse tipo são do sexo masculino.Para entender melhor a questão, comecei a analisar as famílias e percebi que em casa a figura feminina (mãe, avó, babá, irmã mais velha, tia etc.) era a responsável pelas primeiras descobertas dos pequenos.
 Como a orientação feminina interfere na aprendizagem dos meninos? 
ALICIA Considerando que os humanos aprendem por identificação, é possível imaginar como é difícil para um garotinho ser ensinado por uma mulher a fazer xixi usando o vaso sanitário,por exemplo. Ela não é um modelo para ele porque não age da mesma maneira. Isso se repete na escola, onde a maioria é de professoras. Sempre queremos nos parecer com quem ensina e é por isso que para os meninos é mais complexo dar uma significação prazerosa ao conhecimento. 

Como se explicam, então, os problemas escolares apresentados pelas meninas em sala de aula? 
ALICIA Com as garotas, o caso é outro. As dificuldades delas ficam escondidas porque o modelo que se tem de bom aluno é aquele que não questiona, é quieto, obediente, passivo e caprichoso nas atividades. Elas, em geral, reúnem essas características e, por isso, são valorizadas. Esses critérios de avaliação são criados por mulheres, que não consideram as questões de gênero presentes na sociedade. Se esse processo fosse encabeçado por homens, a situação seria diferente porque eles levam em conta outras coisas, como a espontaneidade e a ousadia.Porém o problema não se resolveria se eles também não pensassem nessa dicotomia.
 Quais as principais queixas em relação aos estudantes encaminhados aos consultórios psicopedagógicos? 
ALICIA Os meninos apresentam hiperatividade e as meninas são diagnosticadas com distúrbios de atenção - estão sempre dispersas e não se concentram. Ambos os casos levam à dificuldade de aprendizagem e são considerados questões de gênero. Quando falamos de crianças, o maior número de pacientes é do sexo masculino, mas a proporção se equipara quando nos referimos aos adolescentes. Isso acontece porque eles, de modo geral, questionam tudo e todos.É assim que constroem o seu pensamento. Se a garota foi reprimida na infância, podem se manifestar durante sua adolescência distúrbios como anorexia e bulimia. Ela não se permite comer para se satisfazer ou come e sente necessidade de vomitar. É como se não tivesse direito de se apropriar do alimento. Essa mesma lógica ocorre em relação ao conhecimento. 
Cabe ao professor desenvolver um trabalho intencional sobre gêneros? 
ALICIA Eu afirmaria que sim se não tivesse medo de isso se transformar numa técnica, ou seja, o educador falar sobre o assunto duas horas por semana e nada mais.O assunto é para ser trabalhado de maneira transversal, com constância, nas mais diferentes disciplinas.É preciso, por exemplo, corrigir alguns textos que se encontram nos livros de História, como: "Os egípcios moravam na beira do rio Nilo. Suas mulheres..." O texto não diz claramente que as mulheres são propriedade dos homens, mas sutilmente sugere que a palavra egípcios, no trecho, não se refere ao povo como um todo. Essas mensagens subliminares são profundas e perigosas, pois criam um modo de pensar. É necessário excluir isso das aulas. 
Cite outras situações de preconceito em relação à mulher. 
ALICIA Quando procuramos as palavras homem e mulher em dicionários espanhóis e brasileiros, encontramos embaixo da primeira a seguinte definição: "homem público, indivíduo que ocupa um alto cargo do Estado". Já mulher pública é definida como prostituta, meretriz. Isso está em publicações que, se supõe, falam de conceitos e não de mitos. A professora é uma pessoa pública, uma cientista, importante na vida da comunidade. Outro exemplo de problema relacionado ao gênero: as carreiras de caráter feminino demoram mais para serem reconhecidas. Isso acontece especificamente no Brasil com a Psicopedagogia, em que a maioria dos profissionais é mulher e - diferentemente do que ocorre na Argentina - ainda não é regulamentada. 

Pesquisas indicam que muitos educadores atribuem dificuldades de aprendizagem dos alunos a uma condição social desfavorável. 
ALICIA Não acredito nisso. Na Argentina, no sul da Patagônia, trabalhei com psicopedagogos e docentes numa comunidade indígena. Havia a idéia de que o povo que ali vivia não aprendia. Quando a história dessa comunidade começou a ser explorada, descobrimos que no passado os índios tinham muito conhecimento na área da saúde. Com isso, ficou claro que antes eles não aprendiam porque precisavam esconder suas origens e, assim, se adequarem aos nossos padrões. Alguns deles foram matriculados em escolas regulares argentinas e alcançaram notas altas nas avaliações, ficando entre os 10% com melhor desempenho dentro da capital federal. Esse exemplo comprova que se reconhecermos que, o outro é inteligente, independentemente 
de raça, classe social e sexo, grande parte
 
das dificuldades deles desaparece.
 
Como as questões de gênero influenciam a profissão docente? 
ALICIA Os sistemas educativos estão organizados conforme as sociedades patriarcais e, por isso, aspectos da singularidade dos gêneros são negados ou exibidos com excesso, quase como em uma caricatura.
 Esses estereótipos prejudicam os docentes e, sem dúvida, os estudantes. O que o homem deixa de lado quando se dedica ao magistério? 
ALICIA Às vezes, ele é o único dentro de um grupo grande de mulheres. Por isso, pesa sobre ele a responsabilidade do sexo masculino, ou seja, ele é visto como o grande pai. Quando é preciso chamar a atenção de um aluno, delegam essa função a ele - que não pode se constituir em um modelo de masculinidade como deseja. Não é permitido ao professor, por exemplo, agir com ternura, criatividade e sensibilidade. Se ele assume esse lado, vira motivo de chacota. 
E a mulher, o que esconde? 
ALICIA As próprias idéias. Ela não discute opiniões e tem medo de publicar algo que escreveu. Não é à toa que 90% dos docentes são do sexo feminino e a quantidade de livros publicados por homens é muito maior.Na maioria dos países que pesquisei, cerca de 80% das publicações desse tipo são de homens. 
Como mudar essa situação?
 ALICIA Para que as mulheres se autorizem em público, é preciso que elas estejam dispostas a enfrentar quem não concorda com elas. Não é fácil. É necessário tempo para que isso aconteça, pois elas foram preparadas para estarem sempre sorridentes e submissas às imposições. Há trabalhos extraordinários que as professoras fazem e que deveriam se tornar públicos. Entretanto, elas não se animam a escrever suas experiências. Muitas dizem que são a única a pensar de forma diferente na escola. Então, pergunto: "Você já socializou suas idéias com colegas?" Geralmente a resposta é não.Nesse momento, digo que é possível existirem mais duas ou três que compartilham as mesmas opiniões e, juntas, elas poderiam ganhar força nesse questionamento.Por outro lado, há mulheres que quando querem se impor carregam na caricatura do sexo oposto. Elas são ouvidas, mas ficam com a imagem de agressivas e violentas. Esse não é um bom modelo nem para os alunos nem para a sociedade. 
Essa falta de autoria tem a ver com as experiências na infância? 
ALICIA Sim. A mulher que não se expõe é reflexo da menina que teve de esconder o que pensava, pois suas perguntas nunca eram consideradas apropriadas e as respostas sempre estavam incorretas. Com isso, deixou de questionar o mundo ao redor e passou a registrar tudo em um diário que ninguém pudesse ler. Essa é uma prática comum e exclusivamente feminina.Quando trabalho a psicopedagogia com adultas, proponho o resgate da garotinha que elas já foram um dia para que voltem a se permitir fazer perguntas, conhecer, descobrir e serem espontâneas. Defendo que nunca nos esqueçamos da criança e do adolescente que fomos no passado. 
Como não minar o espírito infantil que há em cada aluno? 
ALICIA Geralmente, na passagem da préescola para o 1o ano, parte das atividades comuns na Educação Infantil é deixada de lado para que se foque mais nos conteúdos escolares. Com isso, a mensagem passada é que a vida mudou e é necessário assumir afazeres mais importantes. Artistas, poetas, escritores e mesmo os cientistas - autores de grandes invenções para a humanidade - guardam a essência do brincar.Nenhum desses profissionais seria bem-sucedido se não tivesse viva a criança interior, que é questionadora. Os educadores podem ajudar a mudar muito a sociedade nesse sentido. Claro que é um trabalho demorado, mas é profundo porque ele está em contato com seres que são frágeis e aprendem por meio de referências. 
De que maneira um mestre pode se tornar um modelo? 
ALICIA Sempre nos lembramos daqueles que ensinavam com entusiasmo e dos que tinham senso de humor.Nunca nos remetemos a eles como alguém que lecionava bem. Quando se alfabetiza, por exemplo, se ensina o amor pela leitura e não só o ato de ler. Se o aluno aprende apenas a técnica, não vira um bom leitor. Quando um mestre desempenha sua função com esse grau de qualidade, deixa para trás qualquer problema relacionado à questão de gênero.
Quer saber mais?
BIBLIOGRAFIA
A Inteligência Aprisionada
, Alicia Fernández, 264 págs., Ed. Artmed.
A Mulher Escondida na Professora, Alicia Fernández, 182 págs., Ed. Artmed. O Saber em Jogo, Alicia Fernández, 184 págs, Ed.Ar tmed.
Os Idiomas do Aprendente, Alicia Fernández, 224 págs, Ed. Artmed
Psicopedagogia em Psicodrama, Alicia Fernández, 208 págs., Ed. Vozes.

INTERNET
Acesse
 www.epsiba.com e leia em espanhol artigos de Alicia Fernández

As transformações da situação social da mulher, sociologia do comportamento




Segundo antecipou a presidenta durante a entrevista, a viagem a Nova York será um momento para discutir temas importantes, como o papel da mulher no mundo, a transparência nas ações dos governos e o combate a doenças crônicas. Outra temática que merecerá destaque – afirmou a presidenta – é a crise econômica mundial.
 
Mulheres: entre o lar o trabalho
A constituição e a organização da estrutura familiar não são estáticas. No decorrer da história, as famílias já passaram por várias transformações. Em geral, essas mudanças implicaram alterações substanciais na situação e no papel social da mulher. Dessa maneira, elas tanto puderam arcar com as tarefas domésticas tradicionais quanto, na atualidade, desempenhar atividades anteriormente reservadas exclusivamente aos homens. Com base nesse plano de aula e na reportagemElas estão de volta ao lar, investigue com seus alunos quais foram, nas últimas décadas, as transformações mais decisivas na situação social da mulher.

Modernamente, a família sofreu grandes mudanças em decorrência da expansão do processo de industrialização verificado após os anos 1950 em muitos países. Parte dessas mudanças foi ocasionada pelo fato de a mulher começar a trabalhar no processo produtivo, adquirindo autonomia financeira e intelectual. Emancipada, ela conquista direitos semelhantes aos dos homens, que perderam em quase todos os lugares o papel tradicional de provedor do lar.
Esse fenômeno tem grande significado. Ao solapar o poder e o privilégio masculino no interior da relação familiar, ele contribui decisivamente para o aparecimento de uma situação nova, na qual os parceiros estão em posição de mais igualdade. Isso torna possível a supressão do autoritarismo masculino na relação familiar e contribui para o aparecimento de uma nova forma de organização da família, mais baseada na decisão de cada parceiro e no diálogo aberto. Tal fato está, por sua vez, diretamente relacionado aos valores e práticas de uma sociedade democrática. Se democracia é compartilhar direitos e deveres em situação de igualdade, então a nova estrutura familiar é democrática.
O sociólogo inglês Anthony Giddens constata, inclusive, uma alteração significativa nos motivos que levam à formação de um casal ou de uma unidade familiar. A relação não mais é estabelecida para garantir a sobrevivência material, como ocorria no casamento tradicional, com suas imposições e normas arcaicas, mas para os parceiros conquistarem e criarem vínculos afetivos, nos quais podem desenvolver suas potencialidades, de modo a poder viver conjuntamente com base em mútua decisão ancorada numa "comunicação emocional". Giddens identifica a emergência de uma "democracia das emoções na vida cotidiana", que seria tão importante quanto a democracia pública.

Conduza a discussão indagando se a moçada conhece os motivos sociais de tal transformação. Mostre que, para sociólogos como Göran Therborn ou para o demógrafo Emanuel Todd, a nova configuração familiar também resulta da expansão da educação formal e do acesso das mulheres à Educação Superior. Comente, ainda, que qualquer tentativa de entender a situação atual da mulher não pode desconsiderar a luta feminista, que desde a década de 1950 começou a batalhar pela conquista de novos direitos ou pela ampliação dos existentes, objetivando alcançar plena igualdade dos gêneros. Destaque a importância, nessa luta, da filósofa francesa Simone de Beauvoir, companheira do filósofo existencialita Jean Paul Sartre, que escreveu vários livros sobre a condição feminina, como
 O Segundo Sexo. Explique o significado de sua principal tese: a de que a noção de "feminino" é uma criação dos homens, que assim atribuem algumas qualidades inerentes às mulheres, a fim de imputar a elas certos papéis sociais, como a de mãe ou esposa amorosa. Conclua a aula pedindo para que todos escrevam um breve relatório sobre o assunto trabalhado.



O núcleo familiar tradicional, composto por um casal e por seus filhos, predominou no país até meados do século 20. Comente como, nesse tipo de organização familiar, imperavam relações muito desiguais, nas quais o homem apresentava maior poder diante da mulher e dos filhos, já que desempenhava o papel de provedor. Saliente que esse modelo de homem provedor - figura central na estrutura patriarcal - paulatinamente perdeu força em detrimento do fortalecimento do papel da mulher, causado tanto por sua inserção no mundo do trabalho, que estimulou o aparecimento de uma maior igualdade entre os sexos no ambiente doméstico, quanto por sua rápida escolarização. Atualmente, as mulheres permanecem na escola em média 7,2 anos, enquanto os homens permanecem nela apenas 6,9, em média, segundo dados do IBGE.


Apesar das transformações em curso, a mulher brasileira continua a ter maior parcela de responsabilidades, visto que em geral assume também os afazeres domésticos e a Educação dos filhos. Em seguida, procure mostrar como é notável o aparecimento de vários outros fenômenos associados á transformação do papel social da mulher. Procure exemplificar, mostrando números sobre o aumento de famílias em que a provedora é a mulher. Segundo dados do IBGE, o número de lares chefiados por elas aumenta incessantemente, pulando em dez anos de cerca de 20% para quase 30%.

Saliente, ainda, o aumento do número de famílias com pais ausentes, assim como a formação de famílias com membros que já foram anteriormente casados. E fale também sobre a diminuição do número de filhos por mulher nos últimos anos: se, em 1981, a taxa de natalidade no Brasil era de 4,4 filhos por mulher, em 2001 esse número caiu para 2,4, bem próxima à taxa dos Estados Unidos - que era, na mesma data, de 2,1. Indague a turma sobre as consequências mais marcantes desses fatos, realçando que a média nacional de pessoas por família caiu para 3,1.

O conjunto desses fatos contribuiu para a mulher conquistar maior paridade de poder tanto na estrutura familiar como nas atividades sociais. Em muitas sociedades, elas se consideram atualmente em condições de igualdade com os homens, ou seja, detentoras da liberdade, autoras de sua trajetória, donas do seu corpo e não se encontram mais subordinadas aos homens, como já o foram: inicialmente aos pais, enquanto solteiras, e ao esposo, depois de casadas.


Durante séculos, em virtude do modelo patriarcal, as mulheres foram privadas de uma vida pública efetiva, permanecendo à margem da produção cultural e da vida política. Aponte como isso se modificou na atualidade, visto que elas conquistaram a inclusão nessas atividades. Pergunte se, apesar dessas conquistas, ainda permanecem muitas diferenças entre os gêneros. Forneça à moçada alguns índices para reforçar a reflexão, destacando que, embora se verifique uma tendência geral para a igualdade dos gêneros no mercado de trabalho, as mulheres ainda ganham 28,4% menos do que os homens. Em 2008, a renda média dos homens foi de 1.172 reais, enquanto a das mulheres foi de 839 reais. No mesmo ano, os homens detinham 56,4% dos empregos.

Com base nos dados e nas análises efetuadas, questione se todas as mulheres tendem a voltar para os lares, abandonando as atividades públicas, como aponta a reportagem da Veja. Discuta se isso é uma tendência geral ou se é uma tendência apenas entre as mulheres pertencentes às camadas mais ricas da população. Para concluir, promova uma discussão a fim de verificar se isso também ocorre entre as camadas sociais menos favorecidas, destacando como as tendências gerais da sociedade podem ser contraditórias, variando conforme os grupos ou classes sociais. Para concluir, solicite aos alunos um relatório final sobre a questão examinada.
Mestre em Sociologia pelo programa de Pós-Graduação em Sociologia da FCL-UNESP, de Araraquara. É doutoranda pela mesma instituição.

"Precisamos incluir também as meninas nas discussões de Ciências e Matemática"


Em suas aulas práticas de Ciências, nos laboratórios ou nos trabalhos em grupo, você já notou se é comum os meninos se dedicarem mais à realização das experiências e as meninas ficarem sempre responsáveis pela elaboração dos relatórios? Você, professor ou professora de Ciências ou Matemática, acredita dar igual oportunidade para os alunos e para as alunas se expressar e tem as mesmas expectativas com relação à carreira que cada um vai escolher? Além disso, alguma vez já parou para pensar por que o número de cientistas mulheres é historicamente menor do que o de cientistas homens? 

A discriminação nas ciências naturais e exatas é apenas uma das facetas do preconceito contra o sexo feminino. Apesar do acesso restrito aos ambientes de pesquisa, a participação das mulheres tem sido importante, embora em muitos casos elas não obtenham o merecido reconhecimento público pelo seu trabalho. Dois exemplos: Rosalin Franklin, que trabalhou com James Watson e Francis Crick, no início dos anos 1950 nas pesquisas sobre a estrutura do DNA; e a imunologista Françoise Barré-Sinoussi, que teve papel determinante na identificação do vírus da AIDS no início dos anos 1980.
 

Como causa ou conseqüência da menor participação das mulheres no mundo científico, o ensino de Ciências e de Matemática tem sido alvo de estudos que mostram a existência dessa discriminação desde a sala de aula. As formas de interação diferenciadas entre professoras (es) e alunas (os), embora não intencionais, podem ser um dos fatores que contribuem para o menor interesse das alunas por essas áreas do conhecimento.

Diante disso, precisamos estar atentas (os) para a construção de uma prática pedagógica que envolva meninos e meninas nas discussões sobre a importância da participação das mulheres nas atividades científicas. Vamos prestar mais atenção em nossas aulas, evitando o uso do masculino genérico, para não silenciar nem tornar as mulheres invisíveis; analisar as formas que ambos os sexos são apresentados nos livros didáticos, na televisão e nas propagandas; fugir da representação de papéis sociais estereotipados que nem sempre nos damos conta, como o médico e a enfermeira, o chefe e a secretária; e discutir a possibilidade de participação de homens e mulheres nas diversas atividades profissionais e domésticas. 

É interessante pesquisar com toda a classe as contribuições históricas e os desafios enfrentados pelas mulheres para uma maior participação na ciência. Como fonte de pesquisa sobre esse tema, sugiro as indicações e os resultados de concursos como o Women in Sciences (da Unesco/L'Óreal) e o Prêmio Cláudia (Editora Abril), que anualmente premiam mulheres que se destacam em diversos campos de atuação profissional. 

No entanto, é importante frisar que nós não devemos criar momentos artificiais para abordar esse assunto. O ideal é incorporar essa discussão nas disciplinas e nos conteúdos trabalhados normalmente na sala de aula. Nessa perspectiva, penso que podemos contribuir para uma sociedade mas justa, onde meninos e meninas possam encontrar na escola elementos que impulsionem a realização pessoal, independente do sexo.

Cláudia C. Moro (claudia@uncnet.br) é bióloga, professora da Universidade do Contestado (SC) e autora do livro A Questão de Gênero no Ensino de Ciências (Ed. Argos).

Reportagem Revista Veja: Feminismo Pós-motherno

Feminismo pós-motherno
"Por trás de um grande homem existe sempre uma grande mulher". Durante muito tempo, a sabedoria popular conferia valor de "dogma" a duas verdades aparentemente inabaláveis: 1) a mulher é uma espécie de oposto complementar do homem; 2) sua vocação "natural" não é exatamente brilhar nos palcos, mas, em vez disso, permanecer discretamente nos bastidores. Trocando em miúdos, o homem foi feito para o exercício intelectual, o sucesso profissional e a vida mundana, enquanto a mulher estava destinada a ficar em casa e a cuidar das crianças, devendo ao marido além do respeito, a submissão. Ora, como mostra a entrevista de VEJA com a escritora e pós-feminista Camille Paglia, esse cenário de papéis rigidamente demarcados é parte de um passado morto e enterrado por mulheres progressistas como Simone de Beauvoir, mas também, ao menos em parte, ressuscitado por figuras polêmicas como Madonna e Angelina Jolie. 
Confirmando a persistência desse legado, o filósofo alemão Friedrich Nietzsche, já no fim do século XIX, chegou ao ponto de afirmar: "A mulher deve ser cuidada, mantida, protegida, poupada como um animal doméstico bem delicado, curiosamente selvagem e frequentemente agradável." Depois de se referir à mulher como "belo e perigoso felino," esse contemporâneo de Freud garantiu que o gênero feminino vinha se tornando cada dia mais histérico e incapacitado "para sua primeira e última ocupação, que é gerar filhos robustos." Ele foi categórico: "Quando uma mulher tem inclinações eruditas, geralmente há algo errado com sua sexualidade." 

Certamente, a pesquisadora e cientista francesa Marie Curie não concordou com ele. Duplamente laureada com o prêmio Nobel de Física (em 1903) e de Química (em 1911), ela é uma das provas mais contundentes de que, ao menos nesse aspecto, Nietzsche estava redondamente equivocado. Peça que a moçada dê outros exemplos de mulheres que, desafiando os costumes e convenções da época, se destacaram de algum modo em suas ocupações. Na sequência, explique que o advento da industrialização trouxe mudanças irreversíveis para a configuração das sociedades modernas, o que se refletiu na paulatina assimilação das mulheres pelo mercado de trabalho, pelo processo de produção de conhecimento e, finalmente, também pelas atividades políticas.
 

Porém, conforme provoca Camille Paglia, o movimento feminista dos anos 1960 levou a uma nova geração de mulheres que se desdobram no cumprimento das funções familiares tradicionais, acrescidas das recém-adquiridas obrigações no trabalho. Naturalmente, o acúmulo de tarefas traz resultados contraditórios. Se, por um lado, elas ficaram mais seguras, bem-sucedidas e independentes do que nunca, por outro, se tornaram "estressadas, loucas e super-conceituadas" em igual medida. Tal paradoxo pode ser bem ilustrado pelo título do seriado televisivo
 Mothern, que retrata as alegrias e aflições da mulher moderna, brincando com as palavras "mãe" (em inglês, mother) e "moderna" (modern). Encomende à turma um artigo que contenha uma avaliação do papel da mulher nos dias de hoje e uma projeção para o futuro. Encerre a aula com a palavra final da roqueira Rita Lee: "Gata Borralheira, você é princesa. Dondoca é uma espécie em extinção..."
Quer saber mais?
TELEVISÃO
Mothern, exibido pelo canal a cabo GNT. A primeira temporada está disponível em DVD
Consultoria Alexia Bretas
Filósofa e doutoranda em Filosofia pela Universidade de São Paulo.



Pablo Picasso - Mulheres que correm ao vento

Dicas de Filme

Dica de filme: Julieta e Romeu (Brasil, Ecos, 1995, 17 min) – De uma maneira descontraída e divertida, as fantasias, as dúvidas, os erros e os acertos da iniciação sexual na adolescência são mostrados através do namoro de Julieta e Romeu.



Dicas de filme: Billy Elliot (Inglaterra, 2000) – um filme sobre um menino que enfrenta muitas dificuldades por ter o balé como sonho de vida.

Cartão vermelho (Brasil, 1994, 14 min) Fernanda gosta de jogar futebol com os meninos e joga bem. Mas para essa “moleca” de 12 anos o apogeu de sua intimidade com a bola é fazê-la voar reta, direta, até o saco dos meninos. Para assistir esse curta metragem, acesse o site Porta Curtas Petrobras  http://www.portacurtas.com.br/index.asp e clique no botão“Assista”, à esquerda. Aproveite para conhecer o acervo livre de curtas e documentários disponíveis no site!

Acorda Raimundo. . .   A corda!(Brasil, de Alfredo Alves, Ibase, 1990, 15 min) – E se as mulheres saíssem para o trabalho enquanto os homens cuidam dos afazeres domésticos? Esta é a história de Marta e Raimundo, uma família operária, seus conflitos, a violência  familiar e o machismo vividos em um mundo onde tudo acontece ao contrário.

Reportagem da Veja: Por que homens e mulheres têm hobbies tão diferentes?

Ao longo da história, algumas atividades foram definidas como tipicamente masculinas ou femininas. Nesse contexto, balé virou coisa de menina e futebol, esporte de garotos. Claro que algumas exceções quebram a regra, mas em geral os clubes de bolinhas e luluzinhas continuam de portas cerradas para o sexo oposto. VEJA dá um exemplo: mesmo com a modernização do pôquer - que renasce entre os jovens brasileiros com menos de 30 anos e é até disputado em campeonatos de TV nos Estados Unidos -, o carteado continua sendo uma diversão típica dos homens. Hipnotizados pelo baralho, os rapazes não "caem na roubada" de levar suas namoradas à diversão. Segregação das garotas ou puro capricho dos jogadores? A reportagem abre espaço para a turma discutir essas questões e analisar por que eles se encastelam em determinadas confrarias que não permitem a participação delas... e vice-versa. Promova uma troca de papéis na sala: enquanto as meninas jogam pôquer, os garotos participam de um chá-de-panela. Polêmica à vista? Certamente. E um bom mote para ensinar que os clubinhos ditos exclusivos podem, vez ou outra, permitir a entrada de não-sócios. 

Reportagem Revista Veja: Analise as razões de quem troca de sexo em busca da felicidade


Analise as razões de quem troca de sexo em busca da felicidade



A reportagem
 "Mudança Precoce" aborda um tema que certamente já fez parte da vivência de seus alunos: a chegada da puberdade, com as transformações e as práticas sexuais associadas a ela. Na maioria dos casos, os rapazes sentem interesse pelas moças e vice-versa. Também ocorre a atração entre indivíduos do mesmo sexo. Mas algumas pessoas têm sérias dificuldades nessa área. Mais que buscar um parceiro, elas rejeitam seu próprio corpo e acabam por se submeter a operações cirúrgicas para harmonizar seu sexo biológico com o psicológico. São os chamados transexuais. Um dos mais conhecidos no país é a bela Roberta Close, que até hoje assina Luiz Roberto Gambini Moreira. O mais novo é provavelmente Johanna, que inspirou o texto de VEJA: um garoto alemão de 14 anos que recebe hormônios femininos, receitados por psiquiatras e endocrinologistas, "para ficar mais parecido com uma garota". 

Afinal, onde reside a sexualidade, nos órgãos genitais ou no psiquismo? O que levou Johanna a se apresentar como uma menina em outro corpo, com tamanha convicção que convenceu a comunidade científica? Coloque essas questões em debate na sala de aula, com base no texto de VEJA. Para a aula, Providencie um mapa da anatomia interna masculina e feminina.
 

Chame a atenção dos estudantes para os papéis dos hormônios citados na reportagem: estrógeno e testosterona. Nesta lição, é importante destacar os caracteres sexuais secundários. Lembre que o primeiro, produzido nos ovários, determina os traços sexuais secundários femininos (formação dos seios, distribuição de gordura pelo corpo e voz fina); o segundo, produzido nos testículos, responde pelas características sexuais secundárias masculinas (aumento de massa muscular, distribuição de pêlos e voz grossa).
 

Apresente o mapa com o esquema interno dos órgãos masculinos e femininos. Ele fornece subsídios para discutir um dos temas centrais do texto: a transgenitalização. Quais devem ser os maiores problemas para a transformação anatômica? Comente a necessidade de modificar a posição da uretra (no homem ela sai "para a frente" e na mulher, "para baixo").
 

Coloque em discussão a questão do prazer. O tema deve ser examinado com cuidado, descartando preconceitos e piadinhas. Recorde que a glande do pênis é uma região ricamente enervada, sensível portanto. O transexual deixa de sentir prazer após a cirurgia? Por isso travestis conhecidos, como Rogéria (ou Astolfo Barroso Pinto), dizem que não pretendem retirar o órgão? Conte que, se houver bom domínio da técnica cirúrgica, é possível levar a enervação até a futura "vagina". Esta, entretanto, jamais terá função reprodutora.
 

Pergunte se, após a operação, o fornecimento do estrógeno pode ser suspenso. Leve os jovens a perceberem que o transexual não possui ovário e, por isso mesmo, não produz o hormônio. Em outras palavras, Johanna deverá tomá-lo pelo resto da vida. Nesse instante, levante outro tema importante suscitado pela revista: a determinação do sexo. Pergunte como isso ocorre. É provável que os alunos respondam "pelo X e Y", mesmo que não saibam exatamente do que se trata. Eles estão se referindo, claro, aos cromossomos sexuais. Diga que nossa espécie tem 23 pares de cromossomos, 22 chamados autossômicos e um chamado sexual, sendo esse par XX na mulher e XY no homem. A presença do Y está relacionada à produção de testosterona ainda na fase embrionária, o que induz a formação das gônadas masculinas. Na ausência do cromossomo Y, os mesmos órgãos embrionários tornam-se gônadas femininas.
 

E se, por algum motivo, esse hormônio não for adequadamente produzido na fase correta? O que ocorreria com um feto 22XY? E se a testosterona for produzida num feto 22XX? Conte que esses são os casos de pseudo-hermafroditismo. A genitália externa é um tanto ambígua, mas as gônadas não são funcionais. Em geral, a criança é criada como menino ou menina, segundo a aparência da genitália externa, que deve ser "corrigida" cirurgicamente na adolescência. Entramos novamente num campo controverso. É assim que se resolve a questão? Existem diferentes formas de definir sexo: sexo cromossômico, sexo hormonal, sexo genital externo e até mesmo sexo protéico. E o sexo "psicológico"? A escolha e a identificação pessoal não são levadas em conta?
 

 
Informe que todo ano, em muitas cidades, realizam-se "Paradas Gays". O nome oficial do evento, em São Paulo e outras localidades brasileiras, é Parada do Orgulho GLBT - sigla de Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneres. É nessa última categoria que estão os transexuais. Sugira a montagem de um painel sobre a mais recente parada gay de sua cidade ou de núcleos vizinhos.
 

A mobilização de gays e lésbicas contra a discriminação sexual vem garantindo a eles uma aceitação social crescente, apesar da sobrevivência de preconceitos disfarçados. Como eram vistas, no passado, as minorias sexuais? Eram respeitadas ou segregadas? Proponha pesquisas sobre o tema. Vale a pena abordar a situação dos eunucos, indivíduos que tiveram os testículos removidos e que se encarregavam da guarda dos haréns. Muitos deles ocuparam posições de prestígio nos impérios Chinês e Otomano (turco). Oriente também estudos sobre a presença dos
 castrati na música européia do século XVIII. Esses meninos eram submetidos à remoção dos testículos antes que a chegada da puberdade prejudicasse a pureza de suas vozes. Peça que a turma procure explicar esse fenômeno. Conte que o mais famoso dos castrati foi o napolitano Carlo Broschi, conhecido como Farinelli. Ele conquistou sucesso por toda a Europa e sobretudo na Espanha, onde permaneceu quase 25 anos, chegando a ser tão influente quanto um primeiro-ministro.

Consultoria Marcos Engelstein

Professor do Ensino Fundamental do Colégio Santa Cruz e assessor de Ciências do
Colégio Anglo-Brasileiro, ambos de São Paulo





Mesmo com as mulheres já sendo aceitas, com restrições, nas pistas, campos e estádios, a partir do século XIX, algumas precisavam enfrentar a família para praticar esportes. Acreditava-se que o esforço excessivo do corpo feminino era uma violação do físico e da estética. Não era difícil encontrar quem atribuísse à atividade esportiva a incapacidade de gerar filhos. Pior: poderia haver um tipo de masculinização. As competições entre mulheres eram consideradas perniciosas, até mesmo uma tentação. Pensava-se que elas favoreciam o exibicionismo, já que as atletas não poderiam competir com o corpo todo coberto. Por isso, a primeira modalidade adotada por elas foi a natação, já que o corpo ficava totalmente imerso na água. Peça uma pesquisa em grupo sobre o contexto histórico e social em que estas atletas conseguiram romper os tabus e se destacar.

 






Revista Veja: Homem com H



Em entrevista a VEJA, o psicanalista Contardo Calligaris reflete sobre as alterações sofridas nas masculinidades e como elas têm impactado os homens sentimentalmente. Nas aulas que seguem, questione com a turma essas mudanças de um ponto de vista social, explicando que os questionamentos das feministas e a dinâmica da sociedade moderna implicam novas expectativas sobre homens e mulheres. Mostre, dessa forma, que masculinidades e feminilidades existem sempre em relação umas com as outras, e que uma marca do nosso momento contemporâneo é a pluralização de possibilidades, tanto para homens quanto para mulheres. 

Entendendo relações de gênero 

Nessa aula, explore com os alunos a questão das relações de gênero na sociedade. Discuta com eles que aquilo que diferentes sociedades consideram como "masculino" ou "feminino" não é universal, mas varia de acordo com o contexto. Mesmo dentro de uma mesma cultura, como a brasileira, expectativas quanto ao ser homem ou ser mulher podem variar bastante. Explique, por exemplo, que há algumas décadas, mulheres não podiam votar, trabalhar sem autorização do marido ou mesmo se divorciar, coisas bastante corriqueiras hoje em dia.

Explique que as ideias que possuímos sobre homens e mulheres são, dessa forma, construídas pela sociedade e pela cultura e que podem variar. Comente também que, apesar de haver uma dualidade biológica que é pensada como base para a definição do gênero, essas características não conseguem explicar toda a gama de comportamentos exibidos por pessoas de ambos os sexos ao redor do mundo, além de não prever as mudanças sofridas por tais culturas. O movimento feminista, por exemplo, criticou o papel que as mulheres tinham na sociedade, como menciona Calligaris na entrevista. Comente com a turma que, desde os anos 1960, em diversos países do mundo, mulheres uniram-se para protestar contra o que consideravam a dominação do homem, o machismo e a subordinação social feminina. No Brasil, criticava-se (e, ainda hoje, luta-se contra) a violência contra a mulher e a pouca inserção feminina na vida pública. É exatamente essa uma das razões pelas quais o homem encontra-se nessa "crise" citada por Calligaris e por muitos outros intelectuais no Brasil e no mundo. 

Explique que uma das consequências do feminismo e da mudança nos papéis femininos foi o questionamento da naturalidade dos papéis masculinos. Ou seja: quando as mulheres passam a exigir a possibilidade de trabalhar, de ser chefe de família, atuar nos esportes e nas Forças Armadas, entre outras esferas tidas como tipicamente masculinas, isso causa um questionamento do próprio sentido do "ser homem". Debata com a moçada: existe alguma coisa que seja exclusivamente do homem, que o defina de uma vez por todas? 

Sinal dos tempos: ícone de masculinidade,o "homem de Marlboro" não resistiu às mudanças sociais do final do século XX. A população trocou o campo pela cidade, a propaganda de cigarros foi proibida e os próprios fumantes passaram a ser segregados.
Discutindo masculinidades 
Agora converse com os jovens mais especificamente sobre o tema das masculinidades contemporâneas. Como sugere Calligaris, existem variadas pressões sociais sobre os homens que acabam se tornando prejudiciais à sua saúde. Diversos pesquisadores, por exemplo, tentam explicar a menor expectativa de vida masculina em comparação com a feminina. Uma das razões apontadas é a maior exposição do homem a comportamentos de risco, como discute o psicanalista na entrevista. As aventuras, as brigas, os esportes radicais e mesmo o mundo do crime acabam por causar mais mortes em homens do que em mulheres, que não são criadas para comportar-se dessa forma.
A expectativa social, portanto, de confirmar a virilidade o tempo todo acaba virando um peso não somente emocional, mas social e cultural. Ou seja, para confirmar sua condição de "macho", muitos acabam por arriscar-se além do que seria necessário ou desejável. Explique que, no entanto, tais comportamentos são definidos cultural e socialmente: homens que não se enquadram em tais definições acabam sofrendo represálias como exclusão, preconceito ou até mesmo violência física.
 Após as críticas do feminismo e com a crescente urbanização da população, no entanto, abrem-se novas possibilidades. A ideia de ser homem ou ser mulher, hoje, não comporta uma definição única, mas possibilita uma diversidade de comportamentos. O macho atual pode ser tanto um fanático por futebol quanto um operador da bolsa de valores ou um publicitário. Pode ser mauricinho, largado, esportista ou preocupado com a última moda. A possibilidade de ser vaidoso e cuidar da aparência são uma conquista recente para muitos homens. Vale lembrar que, há muito pouco tempo, a vaidade masculina era tida como sinal de pouca virilidade. 
Essa falta de uma definição única, no entanto, pode ser vista como algo positivo. Nas grandes cidades brasileiras, e ao redor do mundo, homens conseguem encontrar nichos de socialização e podem vivenciar suas masculinidades de formas diversificadas. O uso do termo "masculinidades" no plural é usado por muitos pesquisadores exatamente para marcar esse novo momento contemporâneo, no qual não existe uma definição única e fechada do que seja o masculino. Longe de ser fonte de ansiedade ou apreensão, como se o homem estivesse de alguma maneira perdido, podemos pensar esse contexto como sendo de grandes possibilidades, para que diferentes seres humanos do gênero masculino consigam exercer sua virilidade das formas mais distintas. Até porque uma nova definição única de masculinidade pode nunca voltar; e isso não é nada ruim.
Quer saber mais?
BIBLIOGRAFIA
"Tenham piedade dos homens!" Masculinidades em Mudança, Marko Monteiro, Editora FEME, 2000, esgotado
A Construção Social da Masculinidade, Pedro Paulo de Oliveira, Ed. UFMG, 2004.
Violência e Estilos de Masculinidade, Fátima Regina Cechetto, Ed. FGV, 2004.