Feminismo pós-motherno
"Por trás de um grande homem existe sempre uma grande mulher". Durante muito tempo, a sabedoria popular conferia valor de "dogma" a duas verdades aparentemente inabaláveis: 1) a mulher é uma espécie de oposto complementar do homem; 2) sua vocação "natural" não é exatamente brilhar nos palcos, mas, em vez disso, permanecer discretamente nos bastidores. Trocando em miúdos, o homem foi feito para o exercício intelectual, o sucesso profissional e a vida mundana, enquanto a mulher estava destinada a ficar em casa e a cuidar das crianças, devendo ao marido além do respeito, a submissão. Ora, como mostra a entrevista de VEJA com a escritora e pós-feminista Camille Paglia, esse cenário de papéis rigidamente demarcados é parte de um passado morto e enterrado por mulheres progressistas como Simone de Beauvoir, mas também, ao menos em parte, ressuscitado por figuras polêmicas como Madonna e Angelina Jolie.
Confirmando a persistência desse legado, o filósofo alemão Friedrich Nietzsche, já no fim do século XIX, chegou ao ponto de afirmar: "A mulher deve ser cuidada, mantida, protegida, poupada como um animal doméstico bem delicado, curiosamente selvagem e frequentemente agradável." Depois de se referir à mulher como "belo e perigoso felino," esse contemporâneo de Freud garantiu que o gênero feminino vinha se tornando cada dia mais histérico e incapacitado "para sua primeira e última ocupação, que é gerar filhos robustos." Ele foi categórico: "Quando uma mulher tem inclinações eruditas, geralmente há algo errado com sua sexualidade."
Certamente, a pesquisadora e cientista francesa Marie Curie não concordou com ele. Duplamente laureada com o prêmio Nobel de Física (em 1903) e de Química (em 1911), ela é uma das provas mais contundentes de que, ao menos nesse aspecto, Nietzsche estava redondamente equivocado. Peça que a moçada dê outros exemplos de mulheres que, desafiando os costumes e convenções da época, se destacaram de algum modo em suas ocupações. Na sequência, explique que o advento da industrialização trouxe mudanças irreversíveis para a configuração das sociedades modernas, o que se refletiu na paulatina assimilação das mulheres pelo mercado de trabalho, pelo processo de produção de conhecimento e, finalmente, também pelas atividades políticas.
Porém, conforme provoca Camille Paglia, o movimento feminista dos anos 1960 levou a uma nova geração de mulheres que se desdobram no cumprimento das funções familiares tradicionais, acrescidas das recém-adquiridas obrigações no trabalho. Naturalmente, o acúmulo de tarefas traz resultados contraditórios. Se, por um lado, elas ficaram mais seguras, bem-sucedidas e independentes do que nunca, por outro, se tornaram "estressadas, loucas e super-conceituadas" em igual medida. Tal paradoxo pode ser bem ilustrado pelo título do seriado televisivo Mothern, que retrata as alegrias e aflições da mulher moderna, brincando com as palavras "mãe" (em inglês, mother) e "moderna" (modern). Encomende à turma um artigo que contenha uma avaliação do papel da mulher nos dias de hoje e uma projeção para o futuro. Encerre a aula com a palavra final da roqueira Rita Lee: "Gata Borralheira, você é princesa. Dondoca é uma espécie em extinção..."
Certamente, a pesquisadora e cientista francesa Marie Curie não concordou com ele. Duplamente laureada com o prêmio Nobel de Física (em 1903) e de Química (em 1911), ela é uma das provas mais contundentes de que, ao menos nesse aspecto, Nietzsche estava redondamente equivocado. Peça que a moçada dê outros exemplos de mulheres que, desafiando os costumes e convenções da época, se destacaram de algum modo em suas ocupações. Na sequência, explique que o advento da industrialização trouxe mudanças irreversíveis para a configuração das sociedades modernas, o que se refletiu na paulatina assimilação das mulheres pelo mercado de trabalho, pelo processo de produção de conhecimento e, finalmente, também pelas atividades políticas.
Porém, conforme provoca Camille Paglia, o movimento feminista dos anos 1960 levou a uma nova geração de mulheres que se desdobram no cumprimento das funções familiares tradicionais, acrescidas das recém-adquiridas obrigações no trabalho. Naturalmente, o acúmulo de tarefas traz resultados contraditórios. Se, por um lado, elas ficaram mais seguras, bem-sucedidas e independentes do que nunca, por outro, se tornaram "estressadas, loucas e super-conceituadas" em igual medida. Tal paradoxo pode ser bem ilustrado pelo título do seriado televisivo Mothern, que retrata as alegrias e aflições da mulher moderna, brincando com as palavras "mãe" (em inglês, mother) e "moderna" (modern). Encomende à turma um artigo que contenha uma avaliação do papel da mulher nos dias de hoje e uma projeção para o futuro. Encerre a aula com a palavra final da roqueira Rita Lee: "Gata Borralheira, você é princesa. Dondoca é uma espécie em extinção..."
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Filósofa e doutoranda em Filosofia pela Universidade de São Paulo.
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