EM BUSCA DA IGUALDADE

“Não é a consciência do homem que lhe determina o ser, mas, ao contrário, o seu ser social que lhe determina a consciência.”

(Karl Marx)

Uma sociedade democrática, justa e humanitária pressupõe o respeito a todas as pessoas e a garantia de direitos, independente de sexo, cor, idade, condições físicas, mentais e orientação sexual. Esta é uma disposição de nossa Lei maior, desde 1988. Cabe aos conselhos promoverem a discussão na sociedade, estimulando a transformação da mentalidade antiga para estes novos conceitos, visão de homens e mulheres, combatendo as desigualdades e valorizando a diversidade humana, em que todas as diferenças são fundamentais.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Revista Veja: Homem com H



Em entrevista a VEJA, o psicanalista Contardo Calligaris reflete sobre as alterações sofridas nas masculinidades e como elas têm impactado os homens sentimentalmente. Nas aulas que seguem, questione com a turma essas mudanças de um ponto de vista social, explicando que os questionamentos das feministas e a dinâmica da sociedade moderna implicam novas expectativas sobre homens e mulheres. Mostre, dessa forma, que masculinidades e feminilidades existem sempre em relação umas com as outras, e que uma marca do nosso momento contemporâneo é a pluralização de possibilidades, tanto para homens quanto para mulheres. 

Entendendo relações de gênero 

Nessa aula, explore com os alunos a questão das relações de gênero na sociedade. Discuta com eles que aquilo que diferentes sociedades consideram como "masculino" ou "feminino" não é universal, mas varia de acordo com o contexto. Mesmo dentro de uma mesma cultura, como a brasileira, expectativas quanto ao ser homem ou ser mulher podem variar bastante. Explique, por exemplo, que há algumas décadas, mulheres não podiam votar, trabalhar sem autorização do marido ou mesmo se divorciar, coisas bastante corriqueiras hoje em dia.

Explique que as ideias que possuímos sobre homens e mulheres são, dessa forma, construídas pela sociedade e pela cultura e que podem variar. Comente também que, apesar de haver uma dualidade biológica que é pensada como base para a definição do gênero, essas características não conseguem explicar toda a gama de comportamentos exibidos por pessoas de ambos os sexos ao redor do mundo, além de não prever as mudanças sofridas por tais culturas. O movimento feminista, por exemplo, criticou o papel que as mulheres tinham na sociedade, como menciona Calligaris na entrevista. Comente com a turma que, desde os anos 1960, em diversos países do mundo, mulheres uniram-se para protestar contra o que consideravam a dominação do homem, o machismo e a subordinação social feminina. No Brasil, criticava-se (e, ainda hoje, luta-se contra) a violência contra a mulher e a pouca inserção feminina na vida pública. É exatamente essa uma das razões pelas quais o homem encontra-se nessa "crise" citada por Calligaris e por muitos outros intelectuais no Brasil e no mundo. 

Explique que uma das consequências do feminismo e da mudança nos papéis femininos foi o questionamento da naturalidade dos papéis masculinos. Ou seja: quando as mulheres passam a exigir a possibilidade de trabalhar, de ser chefe de família, atuar nos esportes e nas Forças Armadas, entre outras esferas tidas como tipicamente masculinas, isso causa um questionamento do próprio sentido do "ser homem". Debata com a moçada: existe alguma coisa que seja exclusivamente do homem, que o defina de uma vez por todas? 

Sinal dos tempos: ícone de masculinidade,o "homem de Marlboro" não resistiu às mudanças sociais do final do século XX. A população trocou o campo pela cidade, a propaganda de cigarros foi proibida e os próprios fumantes passaram a ser segregados.
Discutindo masculinidades 
Agora converse com os jovens mais especificamente sobre o tema das masculinidades contemporâneas. Como sugere Calligaris, existem variadas pressões sociais sobre os homens que acabam se tornando prejudiciais à sua saúde. Diversos pesquisadores, por exemplo, tentam explicar a menor expectativa de vida masculina em comparação com a feminina. Uma das razões apontadas é a maior exposição do homem a comportamentos de risco, como discute o psicanalista na entrevista. As aventuras, as brigas, os esportes radicais e mesmo o mundo do crime acabam por causar mais mortes em homens do que em mulheres, que não são criadas para comportar-se dessa forma.
A expectativa social, portanto, de confirmar a virilidade o tempo todo acaba virando um peso não somente emocional, mas social e cultural. Ou seja, para confirmar sua condição de "macho", muitos acabam por arriscar-se além do que seria necessário ou desejável. Explique que, no entanto, tais comportamentos são definidos cultural e socialmente: homens que não se enquadram em tais definições acabam sofrendo represálias como exclusão, preconceito ou até mesmo violência física.
 Após as críticas do feminismo e com a crescente urbanização da população, no entanto, abrem-se novas possibilidades. A ideia de ser homem ou ser mulher, hoje, não comporta uma definição única, mas possibilita uma diversidade de comportamentos. O macho atual pode ser tanto um fanático por futebol quanto um operador da bolsa de valores ou um publicitário. Pode ser mauricinho, largado, esportista ou preocupado com a última moda. A possibilidade de ser vaidoso e cuidar da aparência são uma conquista recente para muitos homens. Vale lembrar que, há muito pouco tempo, a vaidade masculina era tida como sinal de pouca virilidade. 
Essa falta de uma definição única, no entanto, pode ser vista como algo positivo. Nas grandes cidades brasileiras, e ao redor do mundo, homens conseguem encontrar nichos de socialização e podem vivenciar suas masculinidades de formas diversificadas. O uso do termo "masculinidades" no plural é usado por muitos pesquisadores exatamente para marcar esse novo momento contemporâneo, no qual não existe uma definição única e fechada do que seja o masculino. Longe de ser fonte de ansiedade ou apreensão, como se o homem estivesse de alguma maneira perdido, podemos pensar esse contexto como sendo de grandes possibilidades, para que diferentes seres humanos do gênero masculino consigam exercer sua virilidade das formas mais distintas. Até porque uma nova definição única de masculinidade pode nunca voltar; e isso não é nada ruim.
Quer saber mais?
BIBLIOGRAFIA
"Tenham piedade dos homens!" Masculinidades em Mudança, Marko Monteiro, Editora FEME, 2000, esgotado
A Construção Social da Masculinidade, Pedro Paulo de Oliveira, Ed. UFMG, 2004.
Violência e Estilos de Masculinidade, Fátima Regina Cechetto, Ed. FGV, 2004.

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