EM BUSCA DA IGUALDADE

“Não é a consciência do homem que lhe determina o ser, mas, ao contrário, o seu ser social que lhe determina a consciência.”

(Karl Marx)

Uma sociedade democrática, justa e humanitária pressupõe o respeito a todas as pessoas e a garantia de direitos, independente de sexo, cor, idade, condições físicas, mentais e orientação sexual. Esta é uma disposição de nossa Lei maior, desde 1988. Cabe aos conselhos promoverem a discussão na sociedade, estimulando a transformação da mentalidade antiga para estes novos conceitos, visão de homens e mulheres, combatendo as desigualdades e valorizando a diversidade humana, em que todas as diferenças são fundamentais.

sábado, 3 de dezembro de 2011

Unidade 2 – O percurso do conceito de raça no campo de relações raciais no Brasil

Quando a raça passou a ser um Problema Nacional: Abolição, Teorias Racistas e o Ideal de “Embranquecimento”.

O ano de 1888 com certeza foi muito importante para as pessoas que viviam no regime de escravidão, pois a sua abolição lhe transformou de escravo para cidadão, que já foi um grande avanço, mas a abolição foi falha por ter apenas libertado os escravos, deveria ter feito mais que isso, dado a eles oportunidades de trabalho e conseqüentemente de vida, pois a liberdade sem ter pra onde ir ficou faltando algo, uma vez que aquelas pessoas viveram a vida inteira sobre aquele regime de escravidão assim como um animal em cativeiro e assim que receberam a sua “liberdade” não sabiam pra onde ir, ou seja deveria ter dado a eles a liberdade mas também uma oportunidade de trabalho para que eles pudessem sobreviver de uma forma independente, por que a liberdade ficou meia que teórica.Os escravos continuaram trabalhando pelo pouco mais de nada para os senhores do engenho pois era a única coisa que sabiam fazer e hoje não é muito diferente essas pessoas continuam na maioria das vezes sendo escravos disfarçados dando a sua mão de obra por quase nada para muitos burgueses.

Por questões de cultura, devido essas pessoas serem de pele negra e terem um passado de pobreza em conseqüência da escravidão, eles continuam sendo vistos como pobres e discriminados por isso, só não dar para entender as pessoas que discriminam os negros, pois não há explicação pra isso uma vez que eles nunca fizeram mal para a nação brasileira;pelo contrário sempre trabalharam para o progresso desse país por nada ou quase nada e sobre chicotadas e abusos de todas as espécies.na verdade quem deveria ser discriminado seriam os brancos que usufruíam do trabalho escravo e ainda abusava dessas pessoas e não deixaram uma história de enriquecimento financeiro e cultural para a nação brasileira.

O estabelecimento da igualdade e justiça no mundo moderno está muito distante, pois mesmo depois da virada do século XVIII para o XIX onde foi definido o contorno biológico das raças, mesmo assim as pessoas brancas sempre foram vistas como biológicas morais e intelectualmente superiores a negros.

A patologia da raça, assim como a sexualidade sempre será um motivo de discussão entre os povos pois desde o século XIX as raças eram como o gênero onde não haviam misturas onde cada raça era separada e definida como simplesmente boa ou ruim.Tanto é que quando se iniciou a mistura das raças, onde surgiram os primeiros mestiços eles foram julgados como desgeneradores de raça por estarem descaracterizando cada grupo, onde não deixava de ser uma discriminação.

Uma obra que teve um grande impacto na década de 1930 com referencia ao racismo e a raça foi do sociólogo pernambucano Gilberto Freyre, “Casa-Grande & Senzala”, mas porque não dizer que tal obra ainda nos lembra no dia-a-dia essa discriminação racial, pois mesmo com o fim da República Velha e início da industrialização, ainda vivencias diariamente as diferenças entre as pessoas em todos os sentidos, pois a maioria dos empregos de baixo escalão como por exemplo de domésticas nas casas grandes são sempre dos mais pobres e negros e ao contrário os melhores empregos no mundo da industria são dos brancos que insistem em serem os mais poderosos simplesmente pela cor da pele, e pra isso não precisa ter dinheiro basta ser branca já se sente superior as pessoas negras.

Por mais que muitos discriminadores não aceitam ou até mesmo nem sabem, a cultura brasileira com músicas e comidas conhecidas e apreciadas pelo mundo inteiro é graças aos negros que trouxeram e firmaram no Brasil a feijoada, o a capoeira e o conhecidíssimo mundialmente samba brasileiro.

O Sociólogo norte-americano Donald Pierson, autor do livro “Brancos e Pretos na Bahia, já previa que o Brasil seria uma “sociedade multirracial de classes”, mas se enganou em achar que isso seria apenas uma cor de pele de um povo, pois o meso se enganou ao imaginar que o preconceito de raça não fosse existir entre esse povo tão mestiçado.

Entre os anos de 1940 e 1950, na cidade de São Paulo o absurdo do racismo já existia onde comerciantes discriminadores de negros já se pronunciavam em jornais querendo proibir a circulação dos negros em algumas ruas da cidade , mencionando que a cidade estava com aspecto de Havana, ou seja a cidade estava ficando com cara de um povo negro e pobre e isso poderia afetar sabe lá como a cidade.

A discriminação racial tem um fundamento cultural  séculos atrás, pois a cor da pele, a textura dos cabelos, o formato dos lábios e do nariz sempre relembra aquelas pessoas negras e pobres da era da escravidão e persiste até os dias atuais. Ainda vejo como grande culpa nisso a pós-escravidão que não deu condições de igualdade entre essas pessoas, pois os empregadores mesmo depois da escravidão ainda continuaram e continuam usufruindo da qualidade da mão de obra dos negros porque eles nunca tiveram oportunidade de total liberdade entre os povos, tanto é que recentemente até uma cota foi aprovada nas universidades do país para que os negros pudessem se ingressarem em cursos superiores, vejo que tal atitude só continua a discriminação, pois continua separando as pessoas pela sua cor de pele.

Através de dados do IBGE um sociólogo argentino de nome Carlos Hansenberg começou os seus estudos sobre as separações de classes no Brasil e pode perceber que preto, branco, pardo e indígenas eram, separado dentro de uma nação tão grande, desde a escola até a moradia, tornando assim o Brasil um país de racismo, discriminação e desigualdade racial. Durante essas diferenças existiram todos os tipos de discriminação eram perpetuar por décadas e porque não dizer séculos, até que alguém tome atitude de igualdade entre os povos e veja de forma coletiva pelo povo brasileiro, pois o individualismo e um dos grandes vilões dessa desigualdade entre a nação brasileira.


A minha atuação enquanto gestor só me tornou uma pessoa cada vez mais consciente e revoltada com a tamanha discriminação que existe entre as pessoas pelo simples fato de se manter uma cultura boba que os brancos imaginam serem superiores aos negros pelo simples fato de terem uma pele mais clara que o seu semelhante.

O que faço como pessoa comum e como gestor é primeiro não discriminar e segundo repudiar aqueles que praticam qualquer tipo de discriminação e também de orientar aqueles discriminados a procurarem os seus direitos e punirem com base na lei aqueles que os ofendem e jamais revidar com violência, pois tal prática só alimentará cada vez mais a discriminação.


No meu trabalho como em muitos outros que conheço, os serviços mais pesados são das pessoas negras e sempre existe um que se diz amigo na presença mas na ausência sempre faz uma brincadeira com intenção de discriminação, um belo dia ao ouvir uma dessas piadas referente a um funcionário que cuida da limpeza do pátio, perguntei ao autor da piada se algum dia ele já teria se colocado do outro lado da função e se realmente ele era amigo da pessoa na qual ele se referia a piada com intuído dos demais presentes rirem? Essa pessoa no momento se manteve defendendo e criticando, mas depois refletiu e percebeu que estava errado e hoje se diz mudado e arrependido servindo de exemplo para repudiar discriminação entre os demais colegas de trabalho.

O Brasil, o ultimo País a abolir formalmente o trabalho escravo, concentra hoje o segundo maior contingente de população negra no mundo. Quando em 1888, aconteceu  a abolição da escravatura no Brasil, não foi em decorrência do desejo do branco em ver o negro liberto, mas de ver o País livre da vergonha de ser ainda o único País americano em manter a escravidão. A libertação não foi uma dádiva, mas uma conquista dos próprios negros apoiados política e socialmente pelos abolicionistas. O negro liberto, no entanto, passou a ser negro marginalizado. Enquanto estrangeiros brancos recebiam centenas e milhares de hectares de terra, os negros se amontoavam no morro, pois sequer recebeu um terreno do governo brasileiro pelos seus 400 anos de serviços prestados. Os negros brasileiros têm sofrido, ao longo da nossa história, diversas formas de calúnias. A justificativa para tais acusações variou com o pensamento intelectual da época. O fato é que no Brasil Colônia e no Brasil Império, não houve lugar para o negro no imaginário nacional português ou brasileiro. País que se queria branco, o Brasil se esforçava para realmente brutalizar os negros que importava da África como escravos e os que aqui nasciam. Sua tarefa e justificativa moral era civilizar pela disciplina do trabalho escravo; seu objetivo real era extorquir o máximo possível de trabalho ao menor custo. Poucos descendentes negros se contavam no pequeno espaço social reservado para o exercício da igualdade, da cidadania e da civilidade. 

 No nosso Brasil persiste uma mentalidade profundamente arraigada no sistema escravista/colonial. Em nome de uma “raça superior” já se cometeram milhares de atrocidades durante a história da humanidade. O escravismo é uma constante nos anais da nossa história. O Apartheid, o trabalho escravo, a disseminação indígena são provenientes de uma filosofia de superioridade racial. Enquanto homens se julgarem superiores, teremos necessariamente classes, raças, povos inferiores.

A escravidão como prática em nosso país é profundamente disfarçada. Talvez não se venda mais o corpo do negro ou do trabalhador como outrora, porém, infelizmente, se negocia com a sua identidade, imputando-lhe uma “carga” de inferioridade e discriminação que fere tanto quanto a venda de seu corpo. 

Na sociedade democrática a conquista de direitos iguais propõe aos dominantes repensarem a sua “pretensa” superioridade. Um dos caminhos possíveis de desenvolvimento do processo de superação da prática do racismo é a educação escolar. 

O reflexo da escravidão na qual o negro era tratado como animal, como um ser que não tinha alma nem sentimentos, ainda não foi totalmente transmutado na nossa sociedade. Por mais que se tente mudar esta imagem, há quem não consiga ver no negro aptidões intelectuais, éticas, religiosas e sociais iguais às do branco.

Em síntese, a constatação simbólica se manifesta, no campo político, por ofertas igualmente simbólicas em relação às reivindicações do movimento negro. Tais ofertas vão desde a incorporação da cultura afro-brasileira à cultura nacional até a incorporação à ordem jurídica normativa das reivindicações políticas do movimento negro, tais como princípios constitucionais da não-discriminação e da integração socioeconômica dos negros.


Conceitos:

Antropometria lombrosiana – o médico italiano Cesare Lombroso (1835-1909) desenvolveu a teoria da relação entre as características físicas dos indivíduos e sua capacidade mental e propensões morais. A teoria apontava características corporais do homem delinquente: mandíbulas grandes, ossos da face salientes, pele escura, orelhas chapadas, braços compridos, rugas precoces, testa pequena e estreita.

Lamarkismo – teoria evolucionista de Jean-Baptiste Pierre Antoine de Monet, Chevalier de Lamarck, que foi precursor de Charles Darwin. A teoria se assenta em dois pontos: 1)os seres humanos rumam para a perfeição, dos seres menos desenvolvidos aos mais desenvolvidos; 2)o uso e o desuso, isto é, no processo reprodutivo ao longo do tempo, os indivíduos perdem as características de que não precisam e desenvolvem as que utilizam

Lei Áurea - A Lei que extinguiu a escravidão no Brasil traz o seguinte texto:

Lei Áurea nº 3.353 de 13 de Maio de 1888- Declara extinta a escravidão no Brasil.A Princesa Imperial Regente, em nome de Sua Majestade o Imperador, o Senhor D. Pedro II, faz saber a todos os súditos do Império que a Assembleia Geral decretou e ela sancionou a lei seguinte:

Art. 1.º: É declarada extinta desde a data desta lei a escravidão no Brasil.

Art. 2.º: Revogam-se as disposições em contrário.

Mestiços/as- termo utilizado para designar os/as descendentes de duas ou mais etnias ou raças.

Socialismo – conjunto de doutrinas que pregam a reorganização social por meio da estatização dos bens e dos meios de produção, e de uma sociedade caracterizada pela igualdade de oportunidades para todos e todas. O socialismo moderno surgiu no final do século 18 com intelectuais e movimentos políticos da classe trabalhadora, que criticavam os efeitos da industrialização sobre a propriedade privada. Karl Marx afirmava que o socialismo seria alcançado através da luta de classes e da revolução do proletariado, fase de transição do capitalismo para o comunismo.

Democracia racial - é o termo usado para expressar a crença de que o Brasil escapou do racismo e da discriminação racial, diferentemente do que aconteceu nos EUA e em países africanos. Esta era a imagem que o Brasil vendia ao exterior: de um território democrático no quesito racial.

Neo-lamarkismo – conjunto de teorias bastante diversas, desenvolvidas nas duas últimas décadas do século 19, que aceitavam o princípio da herança de caracteres adquiridos.

Oligarquias – regime político em que o poder é exercido por um pequeno grupo de pessoas de um mesmo partido, classe ou família, que governa em benefício próprio.

República Velha – recebe esta denominação para distingui-la da República Nova. A Velha compreende o período da proclamação (1889) até a ascensão de Getúlio Vargas em 1930.

Benito Mussolini (1883-1945) – Foi um dos criadores e líder do Partido Nacional Fascista. Em 1922 tornou-se Primeiro Ministro da Itália e em 1925 começou a utilizar o título Il Duce, que significa “o líder”. Foi o líder da República Social Italiana e teve o controle supremo sobre as forças armadas da Itália. Permaneceu no poder até 1943. Foi um dos fundadores do Fascismo Italiano, que era nacionalista, corporativista, expansionista, anti-comunista, ligado ao sindicalismo nacional e pelo progresso social. Entrou na Segunda Guerra Mundial ao lado do Adolf Hitler. Com a invasão dos aliados foi preso e executado por guerrilheiros italianos, que exibiram seu corpo em área pública, pendurado de cabeça para baixo.

Movimento modernista brasileiro – teve como marco simbólico a Semana de Arte Moderna, realizada em São Paulo, no ano de 1922. O evento comemorativo do Centenário da Independência do Brasil foi organizado por um grupo de intelectuais e artistas. O movimento declarava o rompimento com as correntes literárias e artísticas anteriores e o compromisso com a independência cultural do país e de um estilo novo, associado às questões nacionais, à urbanização, à industrialização e à migração de estrangeiros/as. O Movimento aconteceu em vários estados do país com forte presença até 1930. Nele se destacaram Heitor Villa-Lobos na música, Mario e Oswald de Andrade na literatura, Victor Brecheret na escultura, Anita Malfatti e Di Cavalcanti na pintura, entre outros/as. 

O mistério do samba – na obra, o autor, Hermano Vianna, destaca o encontro entre representantes da elite e intelectuais do Brasil e os/as músicos/as negros/as e mestiços/as das periferias do Rio de Janeiro. Para VIANNA, o registro e análise destes encontros foram essenciais para  descobrir o processo de transformação do samba - ritmo renegado pela elite e discriminado pela polícia- em um símbolo nacional. O encontro de nomes como Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda e Prudente de Moraes Neto entre outros, com os músicos Pixinguinha, Patrício Teixeira e Donga, são relacionados pelo autor, com as questões de identidade nacional, da busca de uma definição sobre o que é ser brasileiro/a, no contexto sociocultural do Rio de Janeiro nas décadas de 1920 e 1930 (Crf. a  http://camelomarinho.blogspot.com/2009/05/o-misterio-do-samba-hermano-vianna.

Escola de Chicago – A Escola de Chicago surgiu da iniciativa de sociólogos/as norte americanos/as, nos anos 1910. A partir do Departamento de Sociologia passaram a estudar os fenômenos sociais que ocorriam nas áreas urbanas das metrópoles: comportamentos desviantes, gangues, comunidades segregadas etc. A partir de pesquisas passaram a desenvolver novos conceitos, teorias e métodos para explicar e controlar  estes fenômenos. Assim, a expressão Escola de Chicago passou a designar as correntes do pensamento de diferentes áreas (arquitetura  e urbanismo, psicologia social, comunicação social e etc.) e épocas, desenvolvidas na cidade de Chicago.

Epifenômeno – fenômeno causado por outro fenômeno mais importante. Por exemplo, o efeito secundário de uma doença.

Grupos focais - modalidade de entrevista que segue um roteiro, prevê um/a moderador/a condutor/a da conversa e um/a ou mais observadores/as, que complementam o material. O grupo focal é interessante para provocar opiniões e experiências dos/as participantes, que permitam leituras do mundo a partir do ponto de vista dos/as integrantes do grupo. É um instrumental, que encoraja os/as entrevistados/as a dizerem o que pensam sobre um determinado assunto e exporem suas opiniões com franqueza.

Sociedade estamental - sociedade que tem camadas sociais mais fechadas do que as classes sociais, e mais abertas do que as castas. Historicamente, os testamentos caracterizaram a sociedade feudal durante a Idade Média.

Survey - É uma pesquisa empírica, composta de um questionário, que deve ser validado antes de ser aplicado aos/às participantes escolhidos/as. Os dados levantados são analisados e produzem resultados. Esse modelo é muito usado em pesquisas de voto, de opinião pública e de serviços.

Abdias do Nascimento (1914 -) - poeta, escultor, ex-político e ativista social do Movimento Negro é um dos grandes militantes no combate à discriminação racial no Brasil. Criou em 1944 o Teatro Experimental do Negro. Ficou dez anos no exílio. Na volta foi deputado federal (1983-1987) e senador da República (1997-1999). Colaborou com o Movimento Negro Unificado. Criou em 2006, em São Paulo, o dia 20 de novembro, como dia oficial da consciência negra. Foi Professor Benemérito da Universidade do Estado de Nova York e doutor “Honoris Causa” pelo Estado do Rio de Janeiro e pela Universidade de Brasília. Autor de vários livros: “Sortilégio”, “Dramas Para Negros e Prólogo Para Brancos”, “O Negro Revoltado”, entre outros.  Para saber mais visite http://www.abdias.com.br/

Ethos – características sociais e culturais de um povo; aquilo que lhe confere identidade, distinguindo-o de outros.

Africanidade- Em sentido geral, pensar em africanidade nos remete ao sentido de reconhecimento tanto do lugar histórico, sociopolítico e lúdico-cultural, onde tudo se liga a tudo. Na prevalência da africanidade o universo é gerado na existência coletiva, prevalecendo o Ser Humano e o Espaço enquanto expressão da chamada força vital, imprescindível para evidenciar a construção de uma identidade negra postulada na construção de um mundo das tradições coletivas do amplo continente africano, presente e recriada no cotidiano dos grupos negros brasileiros.

Afro-brasileiro- O termo designa tanto pessoas quanto coisas e a cultura oriunda dos descendentes de africanos no Brasil. Afro-brasileiro é hifenizado porque se trata de um adjetivo pátrio composto, isto é, um adjetivo formado de elementos designativos de duas ou três nacionalidades diferentes, ou seja, africano+brasileiro.

Afrodescendente- Para os povos africanos e seus descendentes, a ancestralidade ocupa um lugar especial, tendo posição de destaque no conjunto de valores de mundo. Vincula-se à categoria de memória, ao contínuo civilizatório africano que chegou aos dias atuais irradiando energia mítica e sagrada. Integrantes do mundo invisível, os ancestrais orientam e sustentam os avanços coletivos da comunidade. A ancestralidade redefine a alegria de partilhar um espaço rodeado de práticas civilizatórias e o viver de nossos antepassados, conduzindo para um processo de mudanças e enriquecimento individual e coletivo em que o sentimento e a paixão estão sintonizados com o ser e o comportamento das pessoas (SOUZA, 2003). A ancestralidade remete aos mortos veneráveis, sejam os da família extensa, da aldeia, do quilombo, da cidade, do reino ou do império, e à reverência às forças cósmicas que governam o universo, a natureza.

 Auto-Estima- Sentimento e opinião que cada pessoa tem de si mesma. É na infância, no contato com o outro, que construímos ou não a nossa autoconfiança. As experiências do racismo e da discriminação racial determinam significativamente a auto-estima dos(as) adultos(as) negras e somente a reelaboração de uma nova consciência é capaz de mudar o processo cruel de uma sociedade desigual que não os(as) estimula e nem respeita. O processo psicológico é um dos aspectos mais importantes da auto-estima, pois conduz as relações interpessoais. As formas como nos relacionamos como o outro em muitas situações geram falsos valores. Então o caminho para construção da autoestima está calcado em uma sociedade mais justa e igualitária, no reconhecimento e valores de cada indivíduo como um ser essencial.

 Classificação racial- No Brasil os métodos do IBGE para classificar os grupos de cor/raça. Atualmente o Instituto classifica as pessoas como sendo brancas, pretas, pardas, amarelas e indígenas. Houveram na história dos recenseamentos várias mudanças. No censo de 1872 a população era classificada como sendo branca, preta, parda e caboclo ( aqui se incluía os indígenas) . No Censo de 1890 a cor parda foi substituída por mestiço . No Censo de 1940 temos novamente a classificação dos pardos, junto a dos brancos, pretos e amarelos. Os indígenas foram incluídos somente no censo de 1990. A classificação racial do IBGE meramente descritiva não encontra na contemporaneidade, legitimidade por parte das pessoas que tenta representar. Pretos e pardos não gostam de serem chamados por estes nomes. E, por outro, outras definições de identidades estão sendo adotadas pela sociedade e pelas pessoas. Este é um dos grandes debates que o Brasil enfrentará neste século segundo alguns especialistas em estudos demográficos.

Continente Africano- Limita-se ao norte pelo Mar Mediterrâneo, ao oeste pelo Oceano Atlântico , ao leste pelo Oceano Indico, é constituído por 53 países e conta com uma população de aproximadamente 830 milhões de pessoas. Segundo Moore, “ A mais marcante das singularidades africanas é o fato de seus povos autóctones terem sido os progenitores de todas as populações humanas do planeta, o que faz do continente africano o berço único da espécie humana”, sendo portanto, a África denominada “ Berço da Humanidade”.

Consulta- É uma ação que pretende ouvir dos atores participantes da implementação de uma política, sobre suas impressões, opiniões e sugestões.

Cultura/Cultura Negra- Conceito central das humanidades e das ciências sociais e que corresponde a um terreno explícito de lutas políticas. Para Muniz Sodré, a demonstração de cultura está comprometida com a demonstração da singularidade do indivíduo ou do grupo no mundo: “A noção de cultura é indissociável da idéia de um campo normativo. Enquanto ela emergia, no Ocidente, surgiam também as regras do campo cultural, com suas sanções – positivas e negativas” (SODRÉ, 1988b). Podemos conceituar o termo cultura como estratégia central para a definição de identidades e de alteridade no mundo contemporâneo, um recurso para a afirmação da diferença e da exigência do seu reconhecimento e um campo de lutas e de contradições.

Diretrizes Curriculares- As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro Brasileira tem como objetivo regulamentar a alteração proposta à Lei 9.934/96 trazida pela lei 10.639/03. As diretrizes orientam a formulação de projetos para a implementação da lei , bem como, para a valorização da história e cultura dos afro-brasileiros e dos africanos. As diretrizes foram instituídas pelo Conselho Nacional de Educação/CNE e teve por relatora a professora Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva que possui assento como membro representante da comunidade negra. As Diretrizes foram instituídas pela Resolução no 1, de 17 de junho de 2004 , do CNE.

Discriminação racial- Segundo Pinski, discriminação é o preconceito em ação. Para Bento essa é a diferença entre preconceito e discriminação racial. A Discriminação Racial implica na ação, no ato de discriminar.Enquanto que o racimo e o preconceito encontram-se no âmbito das doutrinas. No Brasil temos legislação que proíbe a discriminação racial, ou seja, o ato de alguém discriminar outro alguém por conta de suas características étnico-raciais.

Diversidade- As educadoras Gomes & Silva nos indicam que “o trato da diversidade não pode ficar a critério da boa vontade ou da implantação de cada um. Ele deve ser uma competência político-pedagógica a ser adquirida pelos profissionais da educação culturais. Essa constatação indica que é necessário repensar a nossa escola e os processos de formação docente, rompendo com as práticas seletivas, fragmentadas, corporativistas, sexistas e racistas ainda existentes”. Nesse sentido, afirma Nilma Lino Gomes: “Assumir a diversidade cultural significa muito mais do que um elogio às diferenças. Representa não somente fazer uma reflexão mais densa sobre as particularidades dos grupos sociais, mas, também, implementar políticas públicas, alterar relações de poder, redefinir escolhas, tomar novos rumos e questionar a nossa visão de democracia”.

Étnico/Etnia- Refere-se a diferentes grupos raciais ou nacionais que se identificam, ou são identificados por outros, em virtude de suas práticas, normas sistemas de crenças e/ou características biológicas em comum. Ao serem denominados grupos étnicos, são implicitamente identificados por estar em minoria e possuir atitudes e tradições consideradas diferentes pela sociedade. Segundo alguns autores, o etnocentrismo no plano intelectual é a dificuldade de pensar a diferença e que, no plano afetivo emocional mobiliza sentimentos de hostilidade, medo e estranheza.

O racismo foi construído e, dentro desse processo, vem passando por vários elementos. A população negra sofre muitas discriminações em desrespeito à cultura africana e em relação a sua cor. Na realidade o que existe mesmo é um preconceito em relação aos aspectos físicos, que envolve a cor, a origem, o cabelo (porque o natural do negro é ter o cabelo crespo). Quando um jovem negro vai num local, por exemplo, procurar um emprego, é negada a sua entrada. Ele é logo visto como um marginal, bandido... Muitas vezes acaba sendo marginal, porque é assim que ele é visto pela sociedade. 

Aliás, a nossa sociedade vê a população pobre como mais suscetível a produzir bandido, ladrão, por causa da condição social. E aí o negro, por esta condição de se encontrar numa situação de marginalidade, acaba sendo associado a esta imagem de ser um bandido e este preconceito está ligado ao aspecto físico da população negra.

A pessoa como ser vivo é mais que uma simples realidade biológica. Ela é definida por uma inserção social, marcada por influências e determinantes culturais, por valores e contra valores. As sociedades, ao longo de sua história, movem-se em base de preconceitos sociais, raciais, religiosos e políticos, dificultando, muitas vezes, o respeito às diferenças e à integração necessária ao desenvolvimento do ser humano.

Uma coisa que sempre me chama atenção em relação às pessoas que são negras, e no vídeo: “Quesito Cor” mostrou alguns exemplos, muitas delas não assume sua cor e raça. Estamos começando o período de rematrícula e matrícula e todo ano acontece alguns casos, quando perguntamos a cor da criança, às vezes a criança é bem escurinha, mas o pai não assume e diz que a cor é parda, branca, mas nunca negra, de 10 pessoas, apenas 2 admite que é negra. Ou seja, se eu não sou capaz de sentir orgulho e assumir o que sou como eu vou agir com o meu próximo? E para a criança como será?

Então, o preconceito nasce da própria raça, e isso precisa ser trabalhado. Sabemos que a partir do momento em que a população tem acesso à escola, tem maior nível de escolaridade, melhora sua condição social e a condição do contexto em que vive, porque desta forma a pessoa tem sua consciência crítica ampliada.

Que a luta contra a discriminação racial é uma luta de todos nós brasileiros, de todos os cidadãos, porque é uma luta pelo resgate da cultura brasileira, já que a nossa cultura é formada também por todos esses elementos que constituem a cultura brasileira. Isso vai contribuir para o desenvolvimento intelectual e social de toda a sociedade e para a nossa própria humanização.

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